Um novo teste para diagnosticar a hanseníase, antes mesmo que apareçam as lesões características na pele e sinais clínicos bem definidos, foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “A detecção precoce é de extrema importância para reduzir a transmissão da doença. Se o indivíduo doente desconhece que está infectado, não será tratado e continuará sendo um foco de infecção para outros indivíduos”, alerta o Prof. Rodrigo Ramos Catharino, coordenador do Laboratório Inovare de Biomarcadores da universidade, que participou da concepção, desenvolvimento e elaboração do trabalho final dessa tecnologia junto a uma equipe.
Ele explica que a hanseníase é transmitida por partículas (tosse, espirro, secreção nasal) entre vias aéreas superiores de um paciente infectado para um indivíduo saudável, sendo comum entre pessoas que convivem, como uma família, mas o desenvolvimento da doença é lento porque a bactéria demora a se multiplicar. “Por isso, os sinais externos também demoram a surgir, mesmo que o indivíduo já esteja infectado. Há relatos em que os pacientes se infectam na infância e só desenvolvem sintomas na fase adulta da vida. Mas o tempo que levará para que a doença se manifeste por meio de sinais e sintomas dependerá da saúde e genética do indivíduo”, afirma o pesquisador. Ele lembra que além da transmissão, o não tratamento acarreta a estigmatização do paciente: ele poderá desenvolver lesões que, negligenciadas, podem levar a mutilações no futuro. Mas, se diagnosticada, a hanseníase pode ser tratada com antibióticos, que são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Hoje, o diagnóstico é feito por meio de biopsia, quando o paciente já apresenta sinais visíveis da doença. A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da Unicamp pode antecipar o diagnóstico, por meio de uma tira sortiva sobre a pele do paciente para a detecção de biomarcadores da bactéria causadora da hanseníase, a Mycobacterium leprae. “A tira sortiva – explica o Prof. Catharino – é capaz de absorver moléculas da pele do indivíduo, de forma que não seja mais necessário realizar uma biópsia. As moléculas presentes na tira sortiva são então analisadas por um espectrômetro de massas, que é capaz de identificar moléculas da própria bactéria, identificando assim que o paciente é portador da hanseníase”.
O novo teste foi desenvolvido durante dois anos pelo alunos dos cursos de mestrado e doutorado na Unicamp: Estela de Oliveira Lima, Cibele Zanardi Esteves, Tatiane Melina Guerreiro, Diogo Noin de Oliveira. Além deles, também participaram os pesquisadores da Fiocruz-Manguinhos no Rio de Janeiro: Cristiana Santos de Macedo, Maria Cristina Vidal Pessolani, José Augusto da Costa Nery, Euzenir Nunes Sarno, em parceria com o laboratório Innovare de biomarcadores (UNICAMP), do qual o Prof. Catharino é coordenador.
Entre as vantagens do novo método, o Prof. Catharino destaca: é menos invasivo, indolor, mais barato, mais rápido e de fácil execução, além de poder ajudar o Brasil a enfrentar a doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou pouco mais de 175 mil casos no mundo em 2015 e considera a hanseníase sob controle, quando o índice de prevalência é de menos de um caso para cada 10 mil habitantes, desde 2000. O Brasil registra a cada ano cerca de 30 mil novos casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia, com 126 mil registros por ano. O índice já recuou mais de 70% nos últimos 12 anos, mas há variação entre as unidades da federação. O Maranhão é líder em casos absolutos no Nordeste e o segundo no país, atrás apenas de Mato Grosso.
A situação da hanseníase no Maranhão e em Estados mais afetados foi um dos principais temas do 9.º Simpósio Brasileiro de Hansenologia, que ocorreu no ano passado, em São Luís. Especialistas chegaram à conclusão de que esta incidência é resultado das condições sociais porque o contágio depende muito das condições nutricionais, de higiene e educação, ou seja, quando mais baixa a imunidade, maior o risco.
“Se não houver maior atuação política que invista em saúde pública e torne maior e mais eficiente o controle dessa e outras doenças infecciosas, o Brasil se manterá como um dos países em que a hanseníase ainda faz parte do conjunto de doenças consideradas problemas de saúde pública”, adverte o Prof. Catharino.
Fonte: Experience News