Dentro de dois anos, o Brasil pode ter disponível, na rede pública de saúde, o teste molecular para diagnóstico precoce da hanseníase, doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae. O protótipo, desenvolvido pelo Laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), com apoio do Laboratório Carlos Chagas, da Fiocruz no Paraná, já está em fase de validação e registro.
Segundo o chefe do laboratório, Milton Moraes, a ideia é colocar o produto disponível em laboratórios de referência em todo o país. “Nos últimos dez anos, o Laboratório de Hanseníase da Fiocruz tem investido em um exame para diagnóstico baseado na detecção da micobactéria que causa a doença. Esses projetos hoje estão desenvolvidos em um ponto que já podemos oferecer ao paciente – em um centro de referência como o nosso – o diagnóstico preciso para que ele possa ser tratado adequadamente”, ressaltou.
O objetivo é fazer o diagnóstico precoce e interromper a transmissão da enfermidade, que ainda afeta 25 mil pacientes por ano no Brasil. Moraes afirmou que o teste atual, sorológico, é menos sensível para detectar a doença quando o paciente tem poucos bacilos. “O teste molecular é feito com a biópsia de pele ou o raspado dérmico do lóbulo auricular. Coloca-se em um tubo, recupera-se o DNA do material e ele é testado para o DNA da micobactéria. Pode ser uma lesão precoce, ainda sem a deformidade, que é um dos problemas maiores da hanseníase quando ocorre o diagnóstico tardio”, explicou.
Seminário
Milton Moraes foi um dos participantes do seminário “Estratégias para Detectar e Interromper a Transmissão Global da Hanseníase”, promovido pela Fundação Novartis e que ocorreu nesta semana na Fiocruz. O evento debateu com especialistas internacionais as inovações e os casos de sucesso na área.
A diretora da Fundação Novartis, Ann Arts, mostrou a estratégia de levar o serviço para fora da rede de saúde. No Brasil, o trabalho é feito com a Carreta da Saúde, que percorre o país desde 2011 fazendo diagnósticos da hanseníase em diversos municípios e já atendeu mais de 20 mil pessoas, tendo encontrado 2 mil pacientes com a doença.
“Temos que levar os serviços para fora da rede de saúde. As pessoas não podem esperar horas para medir a pressão ou conseguir uma prescrição. O Brasil tem um dos melhores sistemas de informações em saúde do mundo, com o mapeamento das doenças, então podemos dirigir os cuidados específicos para cada área. O diagnóstico móvel funciona no seu país”, disse. Ann reforçou, ainda, que apesar do número de novos casos de hanseníase ter diminuído muito desde 2000, ainda são registrados mais de 200 mil novos casos por ano no mundo.
A coordenadora-geral do programa de Hanseníase e Doenças em Eliminação do Ministério da Saúde, Carmelita Filha, salientou que o Brasil ainda precisa avançar muito para combater a doença, sendo atualmente o segundo país em número de casos, atrás, apenas, da Índia. Ela falou que a estratégia do governo segue as metas e metodologia de trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS), de reduzir a zero o número de crianças e menores de 15 anos diagnosticados já com alguma incapacidade física.
“Hoje temos uma média anual de 52 crianças que quando recebem o diagnóstico de hanseníase têm incapacidade física, que é o carro-chefe para o preconceito, mesmo sabendo que a doença tem cura e tratamento. Então, nosso foco são os meninos e meninas, mas temos a meta também de reduzir a incapacidade física na população em geral. Em 2016, de 25 mil casos, 7,5% eram de pessoas que tinham uma incapacidade. Se eles não tratarem, terão uma limitação para o resto da vida”, enfatizou.
Diagnóstico e tratamento
O tratamento da hanseníase é feito na rede de atenção primária de saúde e está disponível em todos os municípios do Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. A recomendação é de que os familiares e pessoas que tiveram contato frequente com o paciente nos últimos cinco anos façam o exame de contato, pois são as que têm mais possibilidade de contrair a doença. No Brasil, a concentração de casos está na região Norte, parte do Nordeste e do Centro Oeste, nas áreas centrais do país. Os principais sintomas iniciais da enfermidade são dormência, manchas esbranquiçadas com perda de sensibilidade e nódulos avermelhados.
Fonte: EBC