Uma pesquisa inédita está sendo realizada no Rio de Janeiro e pretende mapear a diversidade de micro-organismos presentes nos espaços públicos durante a Olimpíada e a Paraolimpíada. O estudo faz parte de uma iniciativa realizada em cidades dos seis continentes e envolve pesquisadores do Consórcio Internacional Metagenômica e Metadesenho do Metrô e Biomas Urbanos (MetaSUB). Enquanto mais de um milhão de visitantes passam pela cidade para assistir aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, os cientistas visitam estações de metrô para coletar amostras e analisar a transformação provocada pelo megaevento no microbioma carioca.
Batizado de Olimpioma, o projeto é coordenado na capital fluminense pelo pesquisador Milton Ozório Moraes, chefe do Laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Segundo ele, trilhões de micro-organismos habitam o corpo de qualquer indivíduo saudável, desempenhando funções relevantes para a saúde. “Uma vez que as competições trazem visitantes de todas as regiões do planeta para o Rio e grande parte deles passa pelas estações de metrô, poderemos verificar o impacto desse fluxo de pessoas sobre a diversidade de micro-organismos que normalmente existe nesses locais”, afirma o pesquisador.
Líder do MetaSUB em São Paulo e coordenador adjunto do projeto Olimpioma, o pesquisador Emmanuel Dias-Neto, do A.C. Camargo Cancer Center, ressalta que este é o primeiro evento mundial no qual a migração de bactérias, fungos, vírus e outros seres microscópicos é estudada. “Vamos analisar como os micro-organismos são transportados com as pessoas e como eles podem perdurar de algum modo na cidade sede, levando assim a relevantes consequências no contexto de saúde pública local”, destaca.
Iniciada antes do período dos Jogos, a coleta de amostras foi realizada durante a Olimpíada e seguirá na Paraolimpíada, além do período após a conclusão dos eventos. Em todas as etapas, o material é coletado dentro de composições de metrô e em nove estações com grande fluxo de passageiros: Vicente de Carvalho, Del Castilho, Maracanã, Central, Carioca, Saens Peña, Botafogo, Cardeal Arcoverde e General Osório. Ao todo, serão coletadas mais de mil amostras.
Sobre o MetaSUB
O consórcio internacional MetaSUB surgiu a partir da pesquisa de Christopher Mason, professor associado de Fisiologia, Biofísica e Genômica Computacional no Instituto de Biomedicina Computacional, do Weill Cornell Medicine, nos Estados Unidos, líder da iniciativa. Em 2013, ele e sua equipe mapearam o microbioma do metrô de Nova York. De acordo com o pesquisador, os sistemas de transporte de massa das cidades são os maiores locais de troca de DNA e RNA entre as pessoas no mundo, refletindo o microbioma de bilhões de indivíduos.
“Estudamos estes sistemas para construir um mapa do microbioma, o que pode levar à descoberta de novas espécies e novos métodos de análise forense de DNA. Também buscamos acompanhar os marcadores genéticos de resistência aos antimicrobianos e pesquisar novos genes de biossíntese em micro-organismos desconhecidos, que podem ser capazes de produzir antibióticos”, diz Mason, que também atua como WorldQuant Research Foundation Scholar, no Weill Cornell Medicine.
Como é feita a investigação
Para investigar a diversidade de micro-organismos no ambiente, os pesquisadores utilizam um cotonete especial com fibras sintéticas – chamado de swab – e coletam amostras de superfícies como bancos, corrimão e terminais de autoatendimento. No laboratório, todo o material genético encontrado é extraído e sequenciado. Em seguida, as sequências de DNA são analisadas para identificar as espécies presentes.
Em junho, os pesquisadores do MetaSUB realizaram o primeiro dia de amostragem global de DNA, com coleta de amostras em 56 cidades de 22 países nos seis continentes. O objetivo é que a avaliação do Olimpioma seja realizada novamente nos Jogos de Tóquio, em 2020.
Fonte: Blog da Saúde