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Órfãos de pais vivos

Confira uma poesia sobre a história de pais e filhos que foram separados na época do internamento compulsório para pessoas que tinham hanseníase. A autoria é de Thelma Alves de Oliveira.

Órfãos de pais vivos e sofridos
Que nem puderem ser queridos
Do colo tiveram seus filhos arrancados
Sem chamado, sem licença
Simplesmente foram levados

A desculpa era o contágio da lepra
A verdade era a política incorreta
Pra falar pouco e reto
Cruel, desumana, sem perdão
De separação, de servidão
Falta total de compaixão.

Mil histórias nesta história se escondem
Três meninas criadas no mesmo espaço
E um segredo guardado
Eram irmãs e nem sabiam desse laço
Seu nome verdadeiro revelado
Depois de nove anos abrigado
Um pai desconhecido
Uma mãe sumida
Um irmão escondido
Milhares de crianças desaparecidas
Aonde?
Dentro dos abrigos, educandários
Colônias, leprosários
Adotadas, vendidas, banidas
Interrompidas.

Direitos roubados
Identidades perdidas
Sofrimentos espalhados

Essas pessoas doentes
Cuidadas com preconceito
Tiveram marca na cor
Tiveram muita dor
Invisibilidade foi a pura verdade

Fossem eles filhos de ricos
Iriam pro exterior
Fossem eles filhos da elite
Seriam protegidos sem horror

Mas eram pobres esses pobres
Então podiam ser tratados como coisa
Reduzidos a um Bacilo o de Hansen
Este sim deveria ser destruído
Mas erraram no alvo
Os próprios sujeitos foram atingidos
No meio da alma feridos
Sem família nem destino
Sem respeito nem lugar
Buscam até hoje se encontrar

As histórias por eles contadas
Soam como segredos envergonhados
Guardados em gavetas, fotos e memórias
Diante disso trava-se um choro recolhido
De uma culpa pouco assumida
Reparação difícil de ser estabelecida

Internação compulsória
Farsa da história
Seja qual for o motivo
Lepra, hanseníase, drogas,
Loucas senhoras
Que nunca mais se repita
Essa medida maldita!