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Importante: hanseníase deve ser tratada desde o início para que não se torne transmissível

do Jornal da USP no Ar/Rádio USP

O Brasil é o segundo país do mundo em casos de hanseníase em tratamento. São quase 20 mil casos diagnosticados por ano no país e a doença é considerada negligenciada. No mundo, são 200 mil casos registrados da enfermidade.

“Em 2007, a Organização Mundial da Saúde [OMS] incluiu a hanseníase entre as doenças tropicais negligenciadas, porque a maioria ocorre nos trópicos e essas são enfermidades que atingem principalmente a população de baixa visibilidade e representação política, em um ciclo vicioso de pobreza e doença”, comenta a dermatologista Maria Angela Bianconcini Trindade, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica em Dermatologia e Imunodeficiências (LIM/56).

Esses e outros aspectos da hanseníase são trabalhados no livro Ensino e Pesquisa na Atenção à Hanseníase no Estado de São Paulo, com organização, além de Maria Angela, de Tereza Etsuko da Costa Rosa, pesquisadora e docente do mestrado profissional em Saúde Coletiva e diretora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para o SUS do Instituto de Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP); e Maria do Carmo Castiglioni e Selma Lancman, docentes do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP.

Doença que persiste

A hanseníase está inserida nos serviços de saúde de atenção básica desde 2008 e seu tratamento é gratuito e eficaz. “A Organização Mundial da Saúde coloca atualmente a hanseníase entre as doenças tropicais negligenciadas que são possíveis de eliminação, justamente porque têm um tratamento específico e disponível nas unidades básicas de saúde. Mas o maior problema da hanseníase é que o tratamento medicamentoso representa uma parcela fundamental entre as ações para o seu enfrentamento, mas não é suficiente. Já há mais de quatro décadas que isso está disposto. Então, é necessário abordagens multidisciplinares urgentes que entrelacem a saúde com a história, geografia, educação e a antropologia”, observa.

Mesmo com as possibilidades de tratamento, a doença continua sendo uma preocupação. Segundo Maria Angela, são cerca de 200 mil casos diagnosticados por ano no Brasil. “É uma doença que, se tivesse mais divulgação sobre o que é, os sinais e sintomas iniciais, e se não houvesse tanta rotatividade de profissionais, a população também iria procurar mais o serviço de saúde. Por isso, o diagnóstico, mesmo tendo todo esse arsenal da atenção básica, de medicação específica, é realizado nas formas incapacitantes e transmissíveis”, pontua.

Estigmas

Ainda hoje, a hanseníase é uma doença repleta de estigmas, sendo que há tratamentos disponíveis – e disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Esse aspecto histórico-social da doença aumenta o estigma. As pessoas, quando têm algum sintoma, nem procuram o serviço por causa do estigma. Por isso, o tratamento e a inclusão da equipe multiprofissional ajudam muito a manter o paciente em tratamento. Isso porque, mesmo quando fazem o diagnóstico, as pessoas podem não querer continuar o tratamento. A equipe multiprofissional – com psicólogo, assistente social, farmacêutico, enfermeiro, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta – colabora muito para que esses pacientes em tratamento tragam os seus familiares para serem examinados. Esse acolhimento é muito importante para uma doença estigmatizante”, conclui Maria Angela.

Fonte: Jornal da USP