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Ferramenta criada na USP para diagnóstico de hanseníase é premiada pelo Ministério da Saúde

Por Giovanna Grepi, do Jornal da USP

Crédito da foto: Divulgação/FMRP/USP Imagens

A hanseníase é uma doença milenar que ainda é motivo de preocupação para as autoridades públicas brasileiras. Afinal, a condição causada pela bactéria Mycobacterium leprae é endêmica no Brasil, sendo o segundo país no mundo em casos novos da enfermidade. Entre as estratégias recentes criadas para avançar no diagnóstico e educação em saúde sobre a doença está o Questionário de Suspeição de Hanseníase, que acaba de ser premiado pelo Ministério da Saúde no Edital de Mapeamento de Experiências Exitosas em Hanseníase no SUS.

A ferramenta, que pode ser acessada neste link, é de autoria do dermatologista e hansenologista Marco Andrey Frade, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP), e do aluno Fred Bernardes Filho, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica na unidade, com participação da equipe do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária com Ênfase em Hanseníase, do Hospital das Clínicas da FMRP (HC-FMRP).

“O instrumento foi desenvolvido, testado e aprimorado no nosso grupo e avaliamos que a aplicação aumenta 15 vezes a chance do diagnóstico precoce da hanseníase, acelerando, assim, o seu tratamento e evitando as sequelas incapacitantes da doença. Ou seja, representa um avanço no diagnóstico, porque também funciona como instrumento de educação ao levar informações sobre a hanseníase para além dos sinais cutâneos, verificando os sintomas neurológicos, como dormências, formigamentos, dores nos nervos e cãibras, tanto na comunidade quanto dentre os profissionais das equipes de saúde”, explica Frade.

Ainda de acordo com o médico, o questionário de 14 questões objetivas pode ser uma ferramenta simples e econômica no rastreamento e ainda contribui para aumentar a consciência dos sinais e sintomas da doença. “A hanseníase é negligenciada e vem sendo subdiagnosticada, ou seja, os profissionais não estão preparados para pensar na hipótese quando o paciente tem pura e simplesmente formigamento, dormências, dores nos nervos e cãibras. Às vezes, o paciente passa até 20 anos apenas com esses sintomas neurológicos sem pensar em tratar para hanseníase”, pontua.

Os casos novos foram diagnosticados a partir da aplicação da ferramenta pelos agentes comunitários de saúde de Jardinópolis, cidade vizinha de Ribeirão Preto, no estado de São Paulo. O resultado das análises das respostas na comunidade e dentre os casos que firmaram os diagnósticos foi publicado em forma de artigo na PLOS Neglected Tropical Diseases e aponta para uma possível endemia oculta, que é quando uma doença é comum em determinada região, porém os dados epidemiológicos não demonstram oficialmente a endemia.

Além disso, o professor revela que a ferramenta foi adotada pelo Ministério da Saúde neste ano e já é usada em diversas regiões do país. “É importante ressaltar que, ao ser diagnosticado, o paciente inicia o tratamento com antibióticos fornecidos gratuitamente nas unidades de saúde pelo [Sistema Único de Saúde] SUS e tem a cura da doença, deixando de evoluir para quadros incapacitantes e de transmitir a enfermidade na comunidade, interrompendo a cadeia de transmissão do bacilo da hanseníase”, afirma.

Sobre a premiação

O projeto “Questionário de Suspeição de Hanseníase: Um Instrumento Efetivo Para Educação em Saúde e Ações de Busca Ativa” está entre os três mais bem ranqueados entre 47 experiências de todo o Brasil, e, por isso, ganhou uma produção audiovisual no formato de documentário. A premiação foi concedida por um comitê formado por pesquisadores, membros da sociedade civil, profissionais da saúde e especialistas na doença por iniciativa do Ministério da Saúde.

Fonte: Jornal da USP