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Ministério da Saúde vai distribuir 150 mil testes para enfrentamento da hanseníase

Crédito das fotos: Walterson Rosa/Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde do Brasil anunciou a distribuição de 150 mil testes rápidos para o apoio ao diagnóstico da hanseníase no Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de fevereiro. O anúncio ocorreu durante a cerimônia de abertura do seminário “Hanseníase no Brasil: da evidência à prática”, realizado na semana passada, com a participação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Hoje, o Ministério da Saúde anuncia a entrega dos testes que são fruto de pesquisas realizadas por instituições brasileiras. O teste rápido pela Universidade Federal de Goiás e o PCR pela Fiocruz e pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná”, explicou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que destacou a importância da iniciativa.

De acordo com o Ministério da Saúde, as unidades serão destinadas às pessoas que tiveram contato próximo e prolongado com casos confirmados da doença e serão de dois tipos: o teste rápido (sorológico) e o teste de biologia molecular (qPCR). Uma terceira modalidade, de biologia molecular (PCR), também será ofertada pelo SUS e auxiliará na detecção da resistência a antimicrobianos. As três tecnologias foram incluídas no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da doença em julho de 2022.

A ministra reforçou a importância de se combater a desinformação e o preconceito e enfatizou que a hanseníase é uma doença curável. “Não é apenas a doença que é negligenciada, mas também as pessoas. Por isso, esse seminário é tão importante. O esforço conjunto no combate à infecção é essencial para vencer uma doença que, historicamente, é carregada de estigma”, comentou.

A hanseníase é uma doença infecciosa, que tem cura, e a detecção precoce, combinada com tratamento oferecido em tempo oportuno, reduz consideravelmente as chances de a pessoa ter alguma deficiência. O Brasil possui a maior carga de hanseníase na região das Américas, com mais de 90% dos casos da registrados na região e a segunda maior no mundo (ficando abaixo somente da Índia).

A representante da OPAS e da OMS no Brasil, Socorro Gross, disse que o país é referência para a região das Américas e para o mundo pelas capacidades técnicas, pelos recursos humanos, pelas estratégias de enfrentamento, pelo posicionamento político e pela solidariedade em compartilhar conhecimentos.

“O país tem avançado muito nessa luta e mostrado seu potencial inovador tanto nas estratégias de controle da doença e de combate ao estigma e ações discriminatórias, quanto no desenvolvimento de novos testes. A eliminação da hanseníase no Brasil representará um passo gigante para a eliminação da doença no mundo”, ressaltou Socorro.

O líder interino no Programa Global de Hanseníase da OMS, Venkata Ranganadha Rao Pemmaraju, também reconheceu os esforços do Brasil, não somente no enfrentamento à doença, mas também no compartilhamento do conhecimento com o restante do mundo, e relatou como são estabelecidos os padrões globais de erradicação da hanseníase, a partir das evidências dos países.

“Uma é o tratamento a partir dos tipos de hanseníase; a segunda é a mudança de paradigma no controle e na prevenção usando o mesmo tratamento para todos os contextos. A terceira é incluir as pessoas afetadas no Programa Global de Hanseníase, algo no qual o Brasil foi pioneiro”, salientou.

Hanseníase no Brasil: da evidência à prática

O seminário “Hanseníase no Brasil: da evidência à prática” contou com a apresentação da Estratégia Nacional para Enfrentamento à Hanseníase 2023-2030, que parte de uma construção tripartite com a participação de diferentes entidades do setor.

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, a Estratégia prevê o alcance de metas como a redução em 55% da taxa de casos novos de hanseníase em menores de 15 anos de idade até 2030, tendo como ano-base 2019; redução em 30% do número absoluto de casos novos com grau de incapacidade física 2 (GIF2), quando o paciente apresenta lesões consideradas graves nos olhos, nas mãos e nos pés; e dar providência a 100% das manifestações sobre práticas discriminatórias relacionadas à hanseníase registradas nas Ouvidorias do SUS.

Além disso, foram lançados durante o seminário o “Painel Interativo de Indicadores –  Hanseníase no Brasil”, com acesso a dados da infecção, com base no levantamento do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), e a versão beta do aplicativo “AppHans”, que vai oferecer conteúdo textual e visual para apoiar os profissionais de saúde no diagnóstico, no tratamento, na prevenção de incapacidade física e nas reações hansênicas. Também foram compartilhadas vivências bem-sucedidas no SUS no enfrentamento à hanseníase.

Hanseníase tem cura

A hanseníase é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, também conhecida como bacilo de Hansen (em homenagem à Gerhard Hansen, o médico e bacteriologista norueguês que descobriu a doença, em 1873). O bacilo se reproduz muito lentamente e o período médio de incubação e aparecimento dos sinais e sintomas da doença é de aproximadamente cinco anos.

Os sintomas iniciais são manchas ou nódulos claros ou escuros na pele, resultando em lesões na pele e perda de sensibilidade na área afetada. Outros sintomas incluem fraqueza muscular e sensação de formigamento nas mãos e nos pés. Quando os casos não são tratados no início dos sinais e sintomas, a doença pode causar sequelas progressivas e permanentes, incluindo deformidades e mutilações, redução da mobilidade dos membros e cegueira.

A doença afeta principalmente a pele, os nervos, a mucosa do trato respiratório superior e os olhos. Em alguns casos, os sintomas podem aparecer nove meses após a contaminação e, em outras situações, podem demorar até 20 anos. A hanseníase não é altamente infecciosa e é transmitida por meio do contato próximo e frequente com pessoas infectadas não tratadas.

Pessoas afetadas pela doença são frequentemente discriminadas e estigmatizadas. Essa situação repercute negativamente no acesso ao diagnóstico, no resultado do tratamento e no resultado do atendimento, além de violar direitos civis, políticos e sociais. Acabar com a discriminação, o estigma e o preconceito é essencial para a eliminação da hanseníase.

Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde