“Aqui, era cheio de animais, como pato e galinha”. “Nesse local, brincávamos de fazer bonecas com as hortênsias”. “Está vendo aquele campo ali? Era onde jogávamos bola nos fins de semana”. Comentários como esses foram constantes no último domingo, dia 29, na sede da Associação Eunice Weaver do Paraná (AEW-PR). As histórias foram contadas por filhos sadios de hansenianos atendidos na instituição entre as décadas de 1940 e 1980.
Juntamente com os familiares, eles se reuniram na tradicional confraternização de fim de ano, que contou com a presença de mais de cem pessoas. “É uma alegria rever ‘nossos irmãos’. Alguns eram órfãos de mãe e outros de pai também. Por isso, nos consideramos uma grande família. Voltar aqui é reviver os momentos felizes que tivemos juntos”, comentou Geraldo Darife Saldanha, que viveu no Educandário Curitiba – que funcionou no local – durante a infância e adolescência.
A confraternização começou pela manhã com trilha ecológica, onde os ex-moradores puderam reviver momentos inesquecíveis. Para José Benedito Mendes, que não retornava ao local há 44 anos, o passeio foi emocionante. “É a primeira vez que volto aqui. Está tudo diferente. Dá vontade de morar novamente nesse espaço. Reencontrar as pessoas que conviveram comigo é muito bom. Estou alegre por estar aqui novamente. Volta um sentimento bom no coração”, afirmou.
O reencontro continuou com música, um saboroso barreado, sobremesa e presentes de Natal para as crianças. “Não sou muito saudosista, mas estar aqui novamente me proporcionou uma sensação muito agradável. Afinal, é um pedaço da nossa história que continua viva. Quando morávamos aqui era outro tempo, outra rotina. Rever a todos neste momento foi muito bom”, destacou Rui Cassilho, de 58 anos, que morou no Educandário quando criança.
A AEW-PR busca realizar encontros como este todos os anos. “Essas reuniões promovem um resgate da história e fortalecem o vínculo entre essas pessoas, reanimando laços de irmandade gerados pela convivência na infância e na juventude. É uma verdadeira celebração da vida e comemoração por mais um ano de conquistas”, enfatizou a presidente da AEW-PR, Ety Cristina Forte Carneiro.
Confira outros depoimentos
“É sempre emocionante estar na companhia de nossos colegas que eram praticamente irmãos. Convivíamos em 180 pessoas, incluindo bebês, crianças e adolescentes. Encontros como esses servem para reviver a nossa história”. Jorge Zanella de Souza, hoje mecânico
“Manter esse vínculo é muito importante, pois o orfanato é a nossa casa, a nossa referência. Hoje, lembramos com alegria o que vivenciamos. Apesar de não estarmos com nossos pais, éramos muito unidos. Só tenho um irmão de sangue, mas considero todos os que estão aqui como irmãos e família. A criação que tive, me fez forte, aprendi condutas e valores a partir dos ensinamentos repassados aqui. Não tenho preconceito de nada. Posso dizer que a minha formação começou neste local. Tivemos uma infância de brinquedos que nós mesmos fazíamos. Era muito divertido”. Maria Aparecida da Costa Moreira, hoje técnica em enfermagem
“Guardo bons momentos vivenciados aqui. O incentivo que recebi me proporcionou medalha de prata no atletismo nos Jogos Infantis do Paraná, em 1977. E também uma premiação de redação escolar. Lembro que era viciado em leitura. Meu irmão e eu adorávamos ler gibis e isso influenciou para os bons resultados”. Odílio José Darife Saldanha, hoje comerciário