Janeiro é o mês reservado ao combate a uma das mais antigas doenças conhecidas pela humanidade e que já está banida de muitos e muitos países há anos. Não no caso do Brasil e Índia. Os dois países sofrem amargamente com a hanseníase e ocupam o topo da lista de incidência da doença. Neste ano, o Dia de Combate à Hanseníase será 25 de janeiro.
A data foi instituída pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e a grande arma para combater essa doença, felizmente, está em nossas mãos – é a informação. Mas infelizmente a hanseníase ficou esquecida em nosso país e a população – sem distinção de classe econômica – é passiva à evolução da doença dentro de casa.
Se, por um lado, a hanseníase é curada com um tratamento simples, gratuito em todo o Brasil, por outro, não são raros os doentes que perdem movimentos, visão e têm outros comprometimentos graves decorrentes da desinformação. Outros, com poder aquisitivo e sem diagnóstico preciso, estão investindo muitos recursos em tratamentos para vários problemas, menos para a hanseníase. Enquanto isso, a doença evolui.
Não é apenas o cidadão comum que precisa saber – tanto quanto ele tem conhecimento sobre outros tipos de doenças graves como câncer ou AIDS – sobre a hanseníase. É a professora dos primeiros anos escolares, são os médicos de todas as especialidades, os demais profissionais da saúde – fisioterapeutas, educadores físicos, enfermeiros e técnicos de todas as áreas –, a mãe, o pai. Enfim, são eles que devem fazer o alerta quando identificarem a primeira mancha e/ou alteração de sensibilidade na pele.
Embora todas as unidades básicas de saúde tenham autonomia para diagnosticar e tratar a hanseníase, a distância entre a identificação do problema ante seus primeiros sinais e a chegada à unidade de saúde habilitada a firmar esse diagnóstico é longa. Tempo suficiente para o agravamento da doença e comprometimento dos nervos, por exemplo, limitando movimentos e, por consequência, toda a vida do doente.
O maior combate que temos de assumir é contra o preconceito. Até mesmo cidadãos esclarecidos, personalidades renomadas em suas áreas, empregam termos derivados de hanseníase ou lepra como adjetivos com conceito negativo. Hanseníase é uma doença, não uma (des)qualificação de alguém ou alguma coisa. O tratamento é simples no estágio inicial – de seis a doze meses de ingestão de medicamento via oral. A transmissão do bacilo causador da doença é dado somente por contato muito próximo – por via respiratória ao falar ou tossir, por exemplo. Apesar disso, o doente pode conviver com seus familiares e conhecidos e utilizar os mesmos copos ou talheres, já que o bacilo não sobrevive ao meio aéreo por muito tempo. Ao iniciar o tratamento, o paciente já não transmite mais a doença.
Por tudo isso, não dependemos de drogas inacessíveis e de pesquisas para tirar o Brasil da triste lista de campeão de hanseníase. Dependemos tão somente que a informação seja popularizada. Para isso, é preciso que as empresas disponibilizem a informação aos seus colaboradores, ou por meio das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs), que as escolas tratem do tema em suas disciplinas, que os planos de saúde atualizem seus profissionais, que a mãe e responsáveis por menores informem-se e, especialmente, que governantes abram este debate.
A sociedade precisa abraçar essa causa. 30 mil novos casos de hanseníase são identificados por ano, muitos ainda em jovens com menos de 15 anos. Isso significa que a doença está entre familiares, colegas de escola e amigos. Esse é um número alarmante.
Fonte: Marco Andrey Cipriani Frade, presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia