Autor: Jacyr Pasternak, infectologista

A doença é causada pela infecção com o Mycobacterium leprae, bactéria geneticamente defectiva capaz de infectar o homem e provocar lesões em alguns poucos modelos experimentais, como o tatu e a planta do pé do rato. A bactéria não é cultivável e 90% dos casos diagnosticados na América estão no Brasil, sendo o local onde aparecem mais casos novos a região Norte. Alguns dados dão uma prevalência da doença de 2.4 pacientes em 10.000 pessoas, mas grande parte deste número persistentemente alto de pacientes se deve a um melhor diagnóstico, não por disseminação.

A doença tem aspectos clínicos muito diferentes dependendo da defesa inata do hospedeiro, tendo dois polos: um onde o bacilo prolifera amplamente e dá extensas lesões de pele, podendo avançar para olhos, testículos, fígado e outros órgãos, e outro onde a bactéria se divide menos e invade basicamente as bainhas dos nervos.

A hanseníase é diagnosticada por dados clínicos com testes simples em geral feitos por dermatologistas e de tecidos (biopsias), além da coloração dos bacilos pelo método de Ziehl em secreções ou em linfa de pele. O tratamento da hanseníase é muito bem padronizado e envolve medicamentos, como a rifampicina, a clofazamida e a dapsona, todos fornecidos gratuitamente pelo SUS, prova de que o Brasil tem todo um sistema de diagnóstico e tratamento da hanseniase, eficiente, publico e, insisto, gratuito.
A doença é contagiosa apenas por contato longo e, em geral, familiar e os riscos de transmissão por contato de curta duração ou ocasional são mínimos, se é que existem. A hanseníase é uma das doenças que a Organização Mundial da Saúde programou para tentar extinguir, mas não vai ser fácil.

Há uma discussão sobre a ação vacinal do BCG para prevenção da hanseníase. Embora pareça haver esta ação, não existem trabalhos extensos e convincentes e a recomendação do Ministério da Saúde, usando duas doses de BCG, foi feita empiricamente. O tratamento correto do paciente e seu acompanhamento são mais importantes a meu ver, já que o paciente tratado deixa de ser contaminante muito rapidamente.

Fonte: http://www.einstein.br/blog/Paginas/post.aspx?post=1177