Os líderes políticos na França e na Itália devem parar imediatamente de usar a hanseníase como metáfora em debates sobre nacionalismo. É o que defende a especialista da Organização das Nações Unidas (ONU), Alice Cruz. A relatora da entidade para a eliminação da discriminação das pessoas com hanseníase* afirmou que as declarações do presidente francês Emmanuel Macron e do vice-primeiro-ministro italiano Luigi Di Maio, em que usavam o termo “lepra” como metáfora para um aumento do nacionalismo, são “terríveis”.
Em uma entrevista à ONU News, desde Quito, no Equador, a especialista portuguesa explicou a importância desse alerta. “Foi uma chamada de atenção para a importância daqueles que falam no espaço público e, sobretudo, dos responsáveis políticos, cujas palavras têm um enorme impacto na opinião pública. Eles precisam estar conscientes de que a hanseníase existe”, destacou Alice. “A doença existe e há milhões de pessoas vivendo com as consequências da enfermidade e com o estigma e a discriminação associados a ela. E esses cidadãos merecem ser respeitados como sujeitos de direito”, completou.
Segundo ela, esse tipo de discurso tem várias consequências para as pessoas com hanseníase. “Os resultados estão aí e é esse enorme estigma que justifica que ainda existam leis discriminatórias em mais de 20 países, que levam as pessoas a continuar a ser segregadas nas suas comunidades, dentro de suas famílias, nos seus locais de trabalho. Mas também há a ideia de que a hanseníase é uma doença do passado e isso faz com que não existam recursos suficientes para a pesquisa científica”, ressaltou.
Declarações
No mês passado, o presidente francês Emmanuel Macron falou que era possível ver nacionalistas “crescerem um pouco como a lepra em toda a Europa, em países onde pensávamos que seria impossível vê-los novamente”. Os comentários de Macron foram supostamente seguidos por uma declaração do político italiano, de que “a verdadeira lepra é a hipocrisia europeia de alguém que afasta os migrantes na fronteira e depois moraliza”.
Alice Cruz disse acreditar que a hanseníase se tornou muito mais do que uma doença. “Ela tornou-se uma metáfora para tudo o que é socialmente considerado vergonhoso, perturbador e deve ser mantido à parte”, concluiu.
*Os relatores de direitos humanos são especialistas independentes e não recebem pagamento pelo trabalho realizado com o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Fonte: ONU News