O Brasil ainda ocupa o segundo lugar no ranking mundial da hanseníase e concentra 90% dos casos notificados nas Américas. A Índia é o país com mais casos, mas os dados de diversos países apresentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) têm sido questionados pela Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH). Esse cenário é resultado de uma série de problemas, que vão desde a necessidade de capacitação de profissionais de saúde para o diagnóstico da doença até o desenvolvimento e implantação de estratégias de enfrentamento da enfermidade. Essas estratégias precisam conseguir conscientizar a população – de pacientes até autoridades – e diagnosticar precocemente a doença, para que sejam evitadas sequelas e seja quebrada a cadeia de transmissão do bacilo causador da hanseníase.
Para tratar desse tema, a Sociedade Brasileira de Hansenologia vai realizar o 10º Simpósio Brasileiro de Hansenologia, de 15 a 18 de outubro, em Recife. O evento vai reunir os maiores especialistas brasileiros e vários convidados estrangeiros para falar sobre as últimas pesquisas, tratamentos, políticas de combate à doença e o mapeamento da hanseníase no país, entre outros assuntos.
O Brasil registra cerca de 30 mil novos casos de hanseníase por ano. O controle da doença exige avaliação de contatos, pois a enfermidade é transmitida pelas vias aéreas superiores e por gotículas de saliva. Estudos apontam que até 30% de novos casos podem ser encontrados entre os comunicantes (pessoas que convivem com a pessoa com a doença) examinados.
Assim, para controlar a enfermidade, é preciso avaliar os comunicantes. Mas no Brasil, somente cerca de 8% de todos os casos são diagnosticados entre os contatos examinados. Segundo o presidente da SBH, Claudio Salgado, isso indica que os contatos são mal examinados pelo sistema, ou simplesmente não são examinados, mantendo a cadeia de transmissão da doença na comunidade.
“A heterogeneidade dos casos no país, o número preocupante de crianças com até 15 anos com hanseníase, o número baixo de diagnósticos nos estágios iniciais contrastando com o número alto de diagnósticos em pacientes com sequelas e em estágio avançado da doença apontam para uma endemia oculta no Brasil. A doença não está sendo percebida”, alerta Salgado. Por esse motivo, o tema do simpósio deste ano em Recife está focado na hanseníase como uma doença primariamente neural e que, portanto, deve ser diagnosticada precocemente, logo no surgimento dos primeiros sintomas, como dormências e outras alterações de sensibilidade na pele, mesmo antes do surgimento de manchas na pele.
Hansenologistas ligados à Sociedade Brasileira de Hansenologia têm alertado autoridades mundiais sobre o problema. Em 2018, assinaram um artigo na mais importante publicação mundial que trata de doenças infecciosas – The Lancet Infectious Diseases – questionando o número de casos da OMS. Como a hanseníase é uma doença intimamente ligada à pobreza, os especialistas alertam para o fato de que não é possível que muitos países em condições socioeconômicas piores que as do Brasil ou convivendo com crises políticas com agravamento das condições de vida da população não estejam diagnosticando a hanseníase e, consequentemente, outras doenças negligenciadas.
Sobre a Sociedade Brasileira de Hansenologia
A SBH tem 70 anos. A Sociedade realiza a cada três anos o Congresso Brasileiro de Hansenologia e, nos anos intermediários, o Simpósio Brasileiro. Também promove ações de treinamento/capacitação de profissionais de saúde no Brasil e assessora outros países, além de ser responsável pela aplicação dos exames e certificação dos médicos hansenologistas no Brasil, bem como por promover a campanha nacional “Todos contra a hanseníase”.
Anote na agenda – 10° Simpósio Brasileiro de Hansenologia
Data: 15 a 18 de outubro de 2019
Realização: Sociedade Brasileira de Hansenologia
Local: Mar Hotel Conventions Recife
Endereço: Rua Barão de Souza Leão, nº 451
Informações e inscrições: www.sbhansenologia.org.br