Em sua mensagem para o 10º Simpósio Brasileiro de Hansenologia, o dermatologista Claudio Salgado, presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) e do simpósio, alertou que inúmeras localidades no Brasil, em países vizinhos e no mundo estão silenciosas para a hanseníase e que todos os estudos nessa área apontam que a capacitação de profissionais leva ao aumento do diagnóstico da doença, um dos requisitos fundamentais para o controle da enfermidade, que ainda está longe de ser controlada.
O evento foi realizado pela SBH em Recife, Pernambuco, de 15 a 18 de outubro. “Uma vez escolhido o local do simpósio, começamos a pensar no tema dele. Poderíamos priorizar a gravíssima situação de aumento no número de cepas resistentes aos antibióticos da poliquimioterapia ou a falta de acesso dos pacientes a reabilitação como um todo, física, mental e espiritual, holística, que proporcione dignidade ao ser humano. Resolvemos focar mais uma vez no diagnóstico precoce, prevenção e quebra da cadeia de transmissão, em razão da gigantesca endemia oculta mundial que estamos vivenciando há alguns anos”, ressaltou o presidente.
Salgado também reforçou a necessidade de chamar a atenção para um dos pilares da hanseníase. “É a razão das incapacidades físicas e de todo o estigma e preconceito: a invasão do Mycobacterium leprae ao sistema nervoso periférico, com a consequente degeneração neural, em uma doença de um grande apelo visual, com suas exuberantes e muitas vezes desfigurantes lesões de pele. A hanseníase é uma doença que se inicia nos nervos, uma doença primariamente neural”, salientou.
Ele lembrou das ferramentas que existem atualmente para avaliar o dano causado pela enfermidade ao nervo. “Eletroneuromiografia e ultrassom, sorologia e biologia molecular já nos auxiliam a definir melhor os casos. A questão já nem é mais se estas ferramentas são importantes. A questão é como fazer com que cheguem a quem mais precisa, nos bolsões de pobreza, nos agregados urbanos, nos rincões rurais deste país e mundo afora”, explicou.
Por fim, o presidente da SBH destacou como precisa ser a atitude dos médicos na investigação da doença. “É necessário tocar nos pacientes, como sempre fizeram os bons hansenólogos do passado. Sentir o nervo, testar a força e a sensibilidade com todos os instrumentos disponíveis, do algodão aos monofilamento”, afirmou. “Discutam, questionem, duvidem, mas saibam ouvir, construam, estendam as mãos. Assim funciona a ciência. Só assim conseguiremos avançar rumo à verdadeira eliminação da hanseníase, único caminho possível para também eliminar o estigma e o preconceito”, concluiu.
Com informações da Sociedade Brasileira de Hansenologia