Mais de 800 pessoas, de 86 países, participaram, nesta semana, da primeira reunião global sobre doenças tropicais negligenciadas de pele. A iniciativa é da Organização Mundial da Saúde (OMS). Doenças de pele estão entre as dez maiores causas de deficiências físicas. Essas enfermidades também têm como consequência o estigma e problemas de saúde mental, de acordo com a agência da Organização das Nações Unidas (ONU).
Impacto do estigma
Artur Custodio, coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), falou à ONU News sobre os impactos da discriminação. “O estigma impacta não só objetivamente na vida das pessoas, com dificuldade de emprego, nas relações pessoais, na família, mas afeta também no nível de atenção dos serviços de saúde para essas pessoas”, ressaltou.
Na lista das 20 doenças tropicais negligenciadas reconhecidas pela OMS, ao menos dez apresentam manifestações dermatológicas.
Importância da integração
Dentre as enfermidades mais prevalentes nos países do chamado Sul Global, estão a hanseníase, a leishmaniose cutânea, a úlcera de Buruli e a micetoma. Todas elas necessitam de abordagens similares de detecção e gerenciamento de casos. Para a OMS, a integração é um ponto crucial na reformulação de estratégias de enfrentamento, disse Socé Ibrahima Fall, diretora do Programa de Doenças Tropicais Negligenciadas da Organização Mundial da Saúde.
De acordo com o representante do Morhan, a integração é essencial. Segundo ele, ainda é necessário avançar nesse aspecto no Brasil. “Para vencer inclusive o estigma da hanseníase e o estigma institucional, é importante a integração. No caso do Brasil, a reabilitação é completamente paralela, usando termos inadequados, que já foram abolidos a nível mundial. Por isso, é importante que a gente integre todo o processo na ponta, de atenção à pessoa atingida pela hanseníase, bem como por outras doenças”, observou.
Novas ferramentas
A retomada de ações de combate a essas doenças – após três anos de instabilidades causadas pela crise da COVID-19 – conta com o impulso de um modelo estratégico difundido pela agência das Nações Unidas em 2022. O documento apresenta ideias de como integrar o manejo das doenças negligenciadas de pele e oferece ferramentas de aprendizado, incluindo cursos on-line e aplicativos digitais. A OMS também disponibiliza um manual de treinamento em vários idiomas – inclusive em português – para apoiar a capacitação de profissionais da atenção primária à saúde.
Custodio destacou que é necessário que essa capacitação seja abrangente. “A gente precisa capacitar os profissionais que estão na ponta, no dia a dia. Agentes de saúde treinados, médicos, enfermeiros, o atendente da unidade de saúde, a pessoa que organiza a fila. Todo mundo precisa saber sobre os sinais e sintomas da hanseníase”, concluiu.
Presenças
Estiveram presentes no evento representantes de ministérios da Saúde, de agências governamentais, de grupos de pacientes e de entidades doadoras, além de acadêmicos e membros da sociedade civil.
Fonte: ONU News