Em 2020, o Brasil registrou 13.807 casos de hanseníase, segundo dados preliminares do Ministério da Saúde. O número representa uma queda de 50,4% nas notificações de casos novos em relação a 2019, quando foram identificadas 27.864 pessoas com a doença. No Paraná, a redução foi de 47,6%, quando as ocorrências passaram de 571, em 2019, para 299, em 2020. O que poderia parecer uma boa notícia, infelizmente, não é. Esse foi um dos resultados da pandemia do coronavírus (COVID-19), período no qual as pessoas deixaram de procurar os serviços de saúde.
“Na verdade, essa diminuição do número de casos é uma péssima notícia. Por conta da pandemia, as pessoas, que antes já tinham dificuldade de procurar o serviço médico por causa de uma mancha, não fizeram uma procura direta ao serviço de saúde”, afirma a dermatologista Nadia Almeida, chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Pequeno Príncipe, instituição parceira da Associação Eunice Weaver do Paraná (AEW-PR).
A médica explica que a hanseníase tem um diagnóstico fácil, mas que não está sendo feito. “A mancha, que é um sinal da doença, não coça, não dói, não faz ferida, não sangra. Ela simplesmente está ali. E as pessoas procuram o serviço de saúde somente se ficam incomodadas com a mancha ou se alguém se incomoda que o outro tenha uma mancha”, observa.
Segundo a dermatologista, às vezes um paciente está no serviço de saúde tratando uma outra doença que não é a hanseníase, pois os sinais e sintomas podem ser confundidos com os de outras enfermidades. Somados a isso estão os quase dois anos sem atendimento nas unidades básicas de saúde, em decorrência da pandemia. “Temos três fatores: a pandemia, que é um fator gravíssimo de saúde; o fato de as unidades de saúde terem ficado fechadas; e o fato de não ter tido as visitas domiciliares para fazer a busca ativa desses pacientes. Então realmente foi um caos para a hanseníase”, destaca.
Outro aspecto negativo é que a falta de diagnóstico precoce pode levar à descoberta da doença quando o paciente já apresenta sequelas. “Foram quase dois anos sem fazer o diagnóstico de uma doença que está ali, caminhando, e isso é muito tempo. Então nós vamos retroceder quase dois anos sem tratamento. E nesse tempo, as pessoas estão transmitindo a enfermidade também”, completa.
Para a médica, o caminho para a solução desse problema nos próximos meses é a busca ativa de casos de hanseníase e a realização de campanhas de conscientização da população. “É preciso incentivar a busca de casos e correr para reverter o prejuízo, cuja conta vai vir daqui a algum tempo”, conclui a especialista.