O Brasil tem registrado um aumento nos casos de hanseníase nos últimos tempos. Somente em 2022, foi verificado um crescimento de 7,2% no número de casos novos detectados no país entre a população em geral e de 9,9% entre meninos e meninas com menos de 15 anos, segundo dados do Ministério da Saúde. E neste Janeiro Roxo é preciso reforçar que a detecção da doença em crianças e adolescentes é um grande sinal de alerta.
“Quando detectamos a hanseníase em uma criança, isso significa que ela está sendo exposta a uma pessoa que está transmitindo a doença, que pode ser os pais, pessoas responsáveis por ela ou alguém da família que esteja doente. A hanseníase é uma enfermidade que demora anos para aparecer, pois o bacilo [Mycobacterium leprae] leva tempo para se reproduzir. Então, o contágio ocorre por causa da convivência”, ressalta a médica Nadia Almeida, responsável pelo Serviço de Dermatologia do Hospital Pequeno Príncipe, instituição parceira da Associação Eunice Weaver do Paraná (AEW-PR).
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, foram registrados 19.635 casos novos de hanseníase no Brasil, em todas as faixas etárias, no período de janeiro de 2022 a janeiro de 2023. Somente no Paraná, foram 393 novos diagnósticos. Já entre os pacientes com menos de 15 anos, foram notificados 836 casos novos da doença no país, sendo seis no Paraná.
A especialista explica que, quando há um diagnóstico de hanseníase em criança, é necessário fazer uma busca ativa entre as pessoas com quem ela convive e o tratamento imediato da família. “O tratamento de crianças e adolescentes é o mesmo prescrito para os adultos. Dependendo da forma clínica da doença, vai variar o tempo do tratamento. O que o médico irá ajustar é somente a dosagem, pois a medicação utilizada é basicamente a mesma”, destaca. O uso combinado dos remédios da chamada poliquimioterapia (PQT) pode durar de seis meses a um ano. “A partir do momento em que o paciente começa a tomar os medicamentos, em menos de 15 dias ele não transmite mais a doença”, completa Nadia.
Conforme a médica do Pequeno Príncipe, a hanseníase pode ser classificada como paucibacilar – que é aquele tipo no qual a pessoa não transmite a doença – e multibacilar – no qual o paciente transmite o bacilo causador da enfermidade. O diagnóstico é clínico, com a realização de exames como a baciloscopia e a biópsia de pele, e pode ser feito em unidades básicas de saúde, por exemplo, nas quais também é oferecido o tratamento gratuito via Sistema Único de Saúde (SUS). Para contribuir com o diagnóstico precoce da doença – o que evita o surgimento de incapacidades físicas e sequelas –, o Ministério da Saúde passou a distribuir, neste ano, testes rápidos para a detecção da hanseníase.
Fique atento aos sinais!
Confira os principais sinais e sintomas da hanseníase:
- manchas (brancas, avermelhadas ou amarronzadas) e amortecidas na pele;
- caroços em qualquer lugar do corpo, como nos braços, nas pernas e nas costas;
- falta de sensibilidade à dor e ao calor;
- diminuição de pelos e suor;
- sensação de formigamento e/ou fisgadas, principalmente nas mãos e nos pés;
- perda da força muscular no rosto, nas mãos e nos pés.
Estigma e preconceito
Um dos desafios enfrentados pelos pacientes com hanseníase, em qualquer idade, é o estigma e o preconceito que ainda rondam a doença, mesmo que a enfermidade tenha cura. “O caminho para combatermos isso é conscientizar a população, a começar dentro do núcleo familiar da própria pessoa que tem a doença, e ressaltar que a hanseníase tem tratamento e cura. Também é necessária a educação dos profissionais de saúde, para a identificação precoce da doença, e a realização de campanhas de mobilização maciças, não somente em janeiro, mas durante todo o ano”, conclui a dermatologista.