A hanseníase é uma doença crônica contagiosa que afeta quase 300 mil pessoas no mundo todo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora existam tratamentos eficazes, no Brasil essa enfermidade é negligenciada e ainda afeta parte considerável da população, principalmente a mais pobre. O Jornal da USP no Ar conversou sobre o assunto com a professora Mariângela Biaconcini Trindade, dermatologista do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Universidade de São Paulo (USP), que traçou um panorama da doença no país.
A especialista explica que a doença é causada pela bactéria Mycobacterium leprae e não é hereditária, embora algumas famílias tenham menores resistências ao bacilo do que outras. No estado de São Paulo, são registrados cerca de mil casos por ano, afetando principalmente jovens adultos. Em outras regiões do país, como a Norte e a Nordeste, a ocorrência da hanseníase em menores de 15 anos é uma realidade. Mariângela comenta que pesquisadores da USP vêm mapeando o avanço da enfermidade. “O desenvolvimento da doença depende do bacilo, do hospedeiro e das condições do ambiente. O Brasil tem ‘clusters’, áreas em que os diagnósticos são mais predominantes do que em outras, e no HC a maioria dos pacientes diagnosticados com hanseníase vive em condições precárias e temos um alto número de incapacitados nessas regiões”, explica.
Tendo isso em vista, a médica reforça a importância das chamadas buscas ativas, que auxiliam na detecção e notificação de novos casos. Isso se dá porque, mesmo tendo uma taxa de infecciosidade alta, apenas 5% das pessoas afetadas pela bactéria adoecem de fato, favorecendo um diagnóstico tardio que pode levar ao agravamento do estado de saúde do paciente. “Além disso, é importantíssimo que a população tenha conhecimento sobre essa doença crônica, que é tão negligenciada em relação a outras agudas. Assim, elas conseguem identificar seus sintomas e buscar auxílio médico”, ressalta Mariângela. “Campanhas governamentais são eficazes para isso, pois no passado isso já funcionou”, completa.
Alguns dos sinais e sintomas da hanseníase são manchas pelo corpo, queda de pelos e diminuição da sensibilidade da pele. Caso chegue a um estado avançado, pode causar deformidades nos membros. O tratamento já existe e é gratuito, oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para saber mais sobre o tema e conferir detalhes da pesquisa de mapeamento dos pesquisadores da USP sobre a incidência da doença na população brasileira, basta clicar aqui e ouvir a entrevista na íntegra.
Fonte: Jornal da USP