O projeto “Abordagens inovadoras para intensificar esforços para um Brasil livre da hanseníase” inicia na semana de 23 a 28 de outubro, nos Estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí e Tocantins. Serão beneficiados com a ação 20 municípios dentre os que registraram o maior número de casos novos da doença, tanto na população em geral como em menores de 15 anos, com base no ano de 2015. A iniciativa, que busca reduzir a carga de hanseníase nessas cidades, é uma parceria do Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), com apoio da Fundação NIPPON do Japão, com duração de três anos (2017/2019).
Além de apresentarem elevado número de casos novos em crianças, os municípios participantes do projeto foram selecionados pela disponibilidade de serviços, de profissionais de saúde e intervenção pedagógica. As cidades que registraram maior número de casos foram: São Luiz (Maranhão), 1º no ranking de números de casos novos de hanseníase em crianças em relação ao restante do país; 2º Recife (Pernambuco); 3º Olinda (Pernambuco); 5º Marabá (Pará); 8º Teresina (Piauí); 11º Cuiabá (Mato Grosso); 12º Jaboatão dos Guararapes (Pernambuco); 17º Palmas (Tocantins); 23º Belém (Pará); 29º São José do Ribamar (Maranhão); 31º Araguaína (Tocantins); 54º Cabo de Santo Agostinho (Pernambuco); 61º Paço do Lumiar (Maranhão); 66º Gurupi (Tocantins); 85º Porto Nacional (Tocantins); 105º Paulista (Pernambuco); 189º Floriano (Piauí); 300º Parnaíba (Piauí); 435º Alcântara (Maranhão); e 1.698º Raposa (Maranhão).
O objetivo do projeto é diminuir a carga de hanseníase nas cidades selecionadas, com a ampliação do trabalho da detecção de casos novos; promoção da educação permanente para os profissionais da Atenção Primária à Saúde; fortalecimento dos centros de referência; redução da proporção de casos novos com Grau 2 de incapacidade física – GIF2 (como garras em mãos e/ou pés e atrofia muscular), por meio do diagnóstico precoce e ações de prevenção de incapacidades; e enfrentamento do estigma e discriminação contra as pessoas acometidas pela doença.
O Ministério da Saúde, em parceria com Estados e municípios, vem intensificando ações para reduzir a carga de hanseníase no Brasil e o projeto “Abordagens inovadoras” é mais uma ferramenta da saúde pública para controlar a doença no país. “Uma ação que temos desenvolvido nos últimos quatro anos é a busca ativa de casos novos da enfermidade em alunos do ensino fundamental de escolas públicas, na faixa etária de cinco a 14 anos, para o diagnóstico precoce e tratamento oportuno. Com esse novo projeto, estamos ampliando a busca ativa da hanseníase nas cidades selecionadas para além dos muros escolares. Dessa forma poderemos eliminar fontes de infecção, impedindo que novas crianças contraiam a doença, reduzindo o risco de desenvolver deficiências físicas associadas à enfermidade”, reforçou o ministro Ricardo Barros.
Redução de casos
Na última década, o Brasil apresentou uma redução de 37,1% no número de casos novos de hanseníase, passando de 40,1 mil pacientes diagnosticados no ano de 2007, para 25,2 mil em 2016. Tal redução corresponde à queda de 42,3% da taxa de detecção geral do país (de 21,19/100 mil habitantes em 2007 para 12,23/100 mil habitantes em 2016). Do total de casos novos registrados, 1,6 mil (6,72%) foram diagnosticados em menores de 15 anos, sinalizando focos de infecção ativos e transmissão recente, e 7,2 mil iniciaram tratamento com alguma incapacidade, sendo 1,7 mil com GIF2.
Ações do projeto
O projeto será conduzido por um núcleo de 27 equipes de especialistas nas áreas de Clínica Geral, Prevenção de Incapacidades e Mobilização Social, além de três coordenadores, sendo um coordenador para cada área: o Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL) para clínica, tratamento e manejo de reações da enfermidade; a Coordenação-Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação (CGHDE/DEVIT/SVS/MS) para a prevenção de incapacidades; a CGHDE e o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) para as ações sobre o envolvimento das pessoas acometidas pela doença na comunidade. Haverá também um coordenador municipal para o acompanhamento das atividades em nível local.
Os especialistas terão o compromisso de ir a campo para a atualização dos profissionais da saúde que atuam na Atenção Básica dos 20 municípios, quanto à teoria e prática do diagnóstico, tratamento, prevenção de incapacidades em hanseníase, além de ações que promovam a prevenção do estigma e da discriminação. Cada equipe de especialistas, composta por três profissionais, será responsável pelas atividades em oito unidades de saúde durante cinco dias. Atenderão, no mínimo, 30 pacientes e conduzirão, ao fim desse processo, uma campanha que ocorrerá no sábado, com realização de exame dermatoneurológico para diagnóstico, avaliação para prevenção de incapacidades, além de atividades que alertam a população sobre os sinais e sintomas da doença.
Após a primeira semana de atualização, haverá uma reunião para avaliação e planejamento das próximas etapas previstas para o primeiro semestre de 2018. Ao final dos três anos, os resultados e o impacto das ações realizadas nos 20 municípios serão analisados, visando à possibilidade de ampliação para outras cidades ou continuidade das atividades nos mesmos locais.
Sobre a doença
A hanseníase é uma doença crônica, transmissível, de notificação compulsória e investigação obrigatória em todo território nacional. Possui como agente etiológico o Mycobacterium leprae, capaz de infectar grande número de indivíduos (alta infectividade), apesar da baixa patogenicidade (poucos adoecem). Tem predileção pela pele e nervos periféricos, podendo cursar incapacidades e deformidades físicas, principais responsáveis pelo estigma e discriminação às pessoas acometidas pela enfermidade.
A transmissão se dá por meio das vias aéreas superiores de uma pessoa doente sem tratamento para outra, pelo contato prolongado. O diagnóstico e o tratamento da hanseníase são ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e estão disponíveis nas unidades públicas de saúde.
A doença exibe distribuição heterogênea no país, com registro de casos novos em todas as Unidades Federadas, e sua alta endemicidade compromete a interrupção da cadeia de transmissão. O enfrentamento da hanseníase baseia-se na busca ativa de casos novos para o diagnóstico precoce, tratamento oportuno, cura, prevenção de incapacidades e exame dos contatos, como forma de eliminar fontes de infecção, interrompendo a cadeia de transmissão da enfermidade.