Nos últimos 20 anos (de 2003 a 2023), somente no Hospital Pequeno Príncipe, foram atendidos mais de nove mil casos de suspeita de violência contra crianças e adolescentes. Os números são crescentes e, infelizmente, caminham ao lado do panorama nacional. Em 2023, houve mais de 228 mil ligações para o Disque 100, denunciando casos que envolveram meninos e meninas de 0 a 17 anos. No mesmo ano, o Hospital atendeu 745 vítimas de diferentes tipos de violência – 70,4% eram bebês e crianças de 0 a 6 anos.
Com a chegada de 18 de maio, Dia Nacional de Enfrentamento à Violência Contra Crianças e Adolescentes, o Pequeno Príncipe destaca, por meio da Campanha Pra Toda Vida – A Violência não Pode Marcar o Futuro das Crianças, os graves indicadores.
No Hospital, 73% das agressões identificadas em 2023 foram praticadas por um familiar. “O que temos observado historicamente nos nossos atendimentos, e também na literatura, é que a violência tem sido perpetrada por pessoas conhecidas da vítima. Usualmente são familiares próximos, que, na maioria dos casos, mantêm algum vínculo afetivo com aquela criança ou adolescente”, ressalta a psicóloga Daniela Prestes, do Pequeno Príncipe.
Violência na Primeira Infância e suas consequências
O recorte da Primeira Infância, que vai até os 6 anos de idade, choca ainda mais. Em 2023, o Pequeno Príncipe atendeu 525 bebês e crianças dessa faixa etária com algum indício de violência. A maioria, 331, chegou por suspeita de abuso sexual, sendo que 24% das situações aconteceram com crianças na faixa de 3 anos de idade. A mais jovem era um bebê de apenas 4 meses de vida.
É durante os primeiros seis anos de vida que as bases para a saúde física, emocional, cognitiva e social são estabelecidas. Passar por situações de estresse, como a exposição à violência, coloca em risco o desenvolvimento e pode provocar consequências mentais e fisiológicas negativas em longo prazo, além de causar mudanças permanentes no cérebro, segundo o Comitê das Nações Unidas (ONU) sobre o Direito da Criança.
A aquisição da linguagem, o funcionamento cognitivo e o autocontrole podem ser afetados para sempre. “Além disso, pela pouca idade e falta de maturidade e discernimento, a criança não consegue identificar o que são maus-tratos e defender-se dessas situações ou pedir ajuda. Por isso, há a necessidade de um olhar diferenciado”, frisa a diretora-executiva do Hospital, Ety Cristina Forte Carneiro.
E o lar, que deveria ser um local seguro, sem agressões, é o principal cenário dos abusos: 76% dessas crianças com até 6 anos foram agredidas por um familiar. Considerando que elas ficam muito tempo em casa – e à mercê do agressor –, a denúncia (que pode ser anônima) por parte de vizinhos, familiares e conhecidos pode ser a única chance para conseguirem socorro.
Campanha Pra Toda Vida
O Pequeno Príncipe trabalha ativamente para impedir casos de agressões e abusos contra meninos e meninas. Desde a década de 1970, mobiliza a população para colaborar com a superação da violência contra o público infantojuvenil. Além da capacitação e da atualização constante dos profissionais que atuam no atendimento a essas crianças, também realiza, há 18 anos a Campanha Pra Toda Vida – A Violência não Pode Marcar o Futuro das Crianças. Essa iniciativa conta, em mais um ano, com o apoio da Associação Eunice Weaver do Paraná (AEW-PR) para a realização de suas ações.
Saiba como você também pode ajudar!
– Acompanhe e compartilhe os posts da campanha deste ano.
– Converse sobre as diferentes formas de violência. Conhecer facilita a identificação e a denúncia. Denunciar é um dever!
– Apresente conteúdos educativos para as crianças e os adolescentes aprenderem – conforme o nível de desenvolvimento – a também proteger-se e pedir ajuda. Clique aqui e conheça o livro com duas histórias sobre o assunto lançado em 2024.
Fonte: Hospital Pequeno Príncipe