Trazida pela mãe, uma menina de menos de 6 anos de idade chega à unidade de pronto-atendimento pediátrica por conta de suspeita de estupro. A narrativa infelizmente é comum no Hospital Pequeno Príncipe. Todos os anos, a instituição recebe crianças e adolescentes vítimas de vários tipos de violência: sexual, física, psicológica, negligência ou autolesão. Em 2022, foram 652 atendimentos – um crescimento de 5,5% em relação aos dados de 2021. A pouca idade das crianças atendidas no Hospital é um dos dados alarmantes: 63% delas estavam na primeira infância, ou seja, tinham até 6 anos.
Os números no maior hospital exclusivamente pediátrico do país são um reflexo da realidade brasileira. Quase 35 mil crianças e adolescentes foram mortos de forma violenta entre 2016 e 2020, sendo que o número anual em relação às crianças com idade entre 0 e 4 anos aumentou 27%. Os dados são do Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, organizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que apontam também a média de 7 mil mortes e 45 mil estupros por ano nessa faixa etária.
“Historicamente, em cerca de 80% dos casos de violência, o agressor é alguém do próprio núcleo familiar ou conhecido da família. Ele, normalmente, se aproveita dos vínculos de confiança estabelecidos com a vítima, além do conhecimento da rotina e dos hábitos, para praticar a violência e ficar mais distante da suspeita de tal ato pelos responsáveis. Por isso, é importante observar mudanças no comportamento da criança e do adolescente”, analisa a psicóloga Daniela Prestes, do Pequeno Príncipe.
Dados alarmantes no Pequeno Príncipe
A violência sexual foi a predominante dos casos atendidos no Hospital Pequeno Príncipe em 2022, com 375 situações. Do total, 69% das vítimas tinham até 6 anos e 79% era do sexo feminino. Além disso, a residência é o lugar onde as vítimas mais sofreram o abuso sexual, com 185 casos. Ainda em relação à violência sexual, mais de 90% dos agressores eram do sexo masculino, e o pai apontado como o principal suspeito.
Em segundo lugar nesse trágico ranking está a negligência. Em 2022, foram atendidos no Hospital Pequeno Príncipe 130 casos envolvendo esse tipo de violação a direitos básicos do público infantojuvenil. A criança mais nova atendida por negligência foi um bebê de apenas 17 dias. Em situações extremas, quando o risco à vida de uma criança ou de um adolescente é evidente, o último recurso utilizado para protegê-los é o encaminhamento para um abrigo. Pela primeira vez, a instituição registrou cinco solicitações desse gênero.
A denúncia de casos de violência salva vidas
Estar atento aos sinais de negligência e das violências sexual, física e psicológica é fundamental para a proteção das crianças e dos adolescentes. A denúncia pode ser a única chance para meninos e meninas serem salvos. De qualquer lugar do Brasil é possível ligar de forma anônima para o Disque 100 e relatar a suspeita de violência. A ligação é gratuita. “Muita gente acha que os pais são ‘donos’ da criança. Mas isso não é verdade. É responsabilidade de toda a sociedade protegê-los”, lembra a psicóloga.
Campanha Pra Toda Vida
O Maio Laranja é dedicado ao enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes. A Campanha Pra Toda Vida – A Violência não Pode Marcar o Futuro das Crianças é promovida pelo Hospital Pequeno Príncipe para dar visibilidade ao tema (saiba mais aqui). Desde 2006, a instituição promove ações de combate à violência por meio de manuais e palestras educativas voltadas a profissionais de saúde e da educação, livros sobre autoproteção direcionados ao público infantojuvenil, e mobilização da comunidade. E em mais um ano, a Associação Eunice Weaver do Paraná apoia as ações do Hospital para a conscientização da sociedade sobre o tema e para o combate à violência praticada contra meninos e meninas.
Fonte: Hospital Pequeno Príncipe